
Burnout não é frescura, nem “estresse acumulado”, e a principal forma de prevenir esse problema, que passou a ser reconhecido como doença ocupacional no Brasil em 2025, é garantir um ambiente psicologicamente seguro e bem gerido. Isso significa ter uma cultura que reconhece os sinais de esgotamento, atua com planejamento e cuida da saúde mental de forma contínua e estruturada, não como uma medida simbólica.
Pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o burnout já é considerado doença ocupacional desde 2022, principalmente por ser resultado de um esgotamento emocional crônico ligado diretamente ao contexto de trabalho e por se diferenciar tanto do estresse pontual quanto de quadros clínicos como a depressão.
E se você acha que não tem com o que se preocupar, um levantamento da WTW, consultoria global especializada em gestão de riscos e saúde corporativa, aponta o contrário: 23% dos trabalhadores brasileiros apresentam sintomas de burnout, o que reforça a urgência de tratar o esgotamento como um tema estratégico dentro de qualquer organização – até porque ele é um risco psicossocial a ser mapeado de acordo com as novas exigências da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) que passaram a valer em maio de 2025.
Neste artigo, você confere os principais sinais, impactos e caminhos para colocar a prevenção de transtornos mentais no trabalho no centro das decisões da sua empresa, atendendo não só às normas da CLT e evitando sanções, como também proporcionando um ambiente laboral mais saudável para todo mundo.
O que significa burnout?
O termo burnout vem do inglês e pode ser traduzido literalmente como "queimar até o fim" ou "estar queimado por completo". Ele foi popularizado na década de 1970 pelo psicólogo Herbert Freudenberger, que usou a palavra para descrever o estado de esgotamento físico e mental observado em profissionais da saúde e do cuidado.
A metáfora vem da ideia de algo que queimou até apagar, como uma vela ou um fósforo, representando a perda total de energia, motivação e capacidade de continuar funcionando de forma saudável.
Com o tempo, o conceito foi ampliado para outros contextos profissionais, mas sempre mantendo essa ideia central de se consumir até não restar nada.
Quais são os sinais de burnout no trabalho?
Exaustão emocional constante, distanciamento mental em relação às tarefas e colegas, queda significativa na produtividade e um sentimento persistente de desmotivação são alguns dos principais sinais de burnout no ambiente de trabalho.
Inclusive, por apresentar sinais comuns também na depressão, essa confusão atrasa o reconhecimento do problema e favorece um ambiente em que o adoecimento passa despercebido, até que se torne insustentável.
Segundo dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros apresentam quadros compatíveis com a síndrome de burnout. Isso mostra que o esgotamento não é uma exceção: ele está presente no cotidiano de muitas equipes e, muitas vezes, já foi normalizado.
Como solução, é dever dos responsáveis pelo RH das empresas encontrar formas de mapear esses riscos e reconhecer os sinais precocemente para evitar o agravamento da condição e os impactos que ela gera – tanto para quem adoece quanto para o time ao redor.
Qual o impacto do burnout nas equipes?
O burnout é uma condição individual, mas com reflexos coletivos. Quando uma pessoa adoece emocionalmente, o time inteiro sente: tarefas são redistribuídas, a produtividade cai, o clima pesa e a rotatividade/turnover aumenta, o que pode, inclusive, aumentar o risco de adoecimento de outros profissionais. Um efeito dominó silencioso, mas altamente prejudicial.
De acordo com dados do Ministério da Previdência Social divulgados pelo G1, o Brasil registrou, em 2024, o maior número de afastamentos por motivos relacionados à saúde mental em uma década, com destaque para casos de ansiedade, depressão e burnout.
Só em São Paulo, foram mais de 125 mil afastamentos, sendo 44.616 por ansiedade e 30.535 por depressão. Minas Gerais e Rio Grande do Sul aparecem na sequência, completando o topo do ranking nacional.
Aliás, o Brasil já é o segundo país no mundo com mais casos de burnout, ficando apenas atrás do Japão. Um pódio que certamente não é de se orgulhar, afinal, esse ciclo compromete resultados, afeta o engajamento e enfraquece a sustentabilidade da empresa a médio e longo prazo. Por isso, prevenir essa síndrome é também preservar a saúde do coletivo e da sua empresa como um todo.
Por que prevenir o burnout nas empresas? Resposta + 6 maneiras de agir estrategicamente
O burnout tem um custo alto, não só financeiro, como também humano, e um dos caminhos mais eficazes para evitar esse cenário é priorizar a prevenção de transtornos mentais no trabalho por meio de apoio individual e ações estruturais que envolvam toda a cultura organizacional.
Uma das principais estratégias contra esgotamento profissional para ficar de olho é investir em ferramentas que permitam entender como o ambiente está afetando o bem-estar das pessoas antes que o problema se torne crônico. Isso pode ser feito a partir de:
- Diagnósticos organizacionais contínuos
- Pesquisas de clima
- Reuniões one-on-one frequentes
Afinal, avaliar o clima, os riscos psicossociais e o nível de segurança emocional é o primeiro passo para agir com precisão.
A seguir, confira outras medidas que têm se mostrado mais eficazes nas empresas:
1. Crie uma cultura de escuta e acolhimento
Abrir canais reais de comunicação – formais e informais – ajuda a identificar sinais precoces de sofrimento emocional. Escuta ativa, rodas de conversa, reuniões one-on-one, espaços anônimos para feedbacks e líderes preparados para lidar com vulnerabilidades fazem toda a diferença.
2. Reavalie metas, jornadas e sobrecargas
Metas inalcançáveis, acúmulo de tarefas e longas jornadas estão entre os principais gatilhos do burnout. Rever expectativas e distribuir responsabilidades de forma equilibrada é essencial para reduzir riscos psicossociais e criar um ambiente mais sustentável.
3. Promova pausas e equilíbrio real entre vida e trabalho
Falar sobre qualidade de vida é importante, mas permitir que ela aconteça na prática é o que evita adoecimentos. Incentivar pausas regulares, respeito ao horário de descanso e uma cultura que valorize a autonomia pode ser um bom ponto de partida.
4. Invista na capacitação de lideranças
Muitas vezes, o burnout é agravado por líderes despreparados para lidar com o fator humano da gestão. Para melhorar nesse quesito, invista em treinamentos sobre empatia, comunicação não violenta (CNV) e gestão emocional, que ajudam a transformar líderes em agentes de prevenção.
5. Use ferramentas para prevenir o burnout de forma estruturada
Monitorar indicadores de clima, sobrecarga e bem-estar permite que você tome decisões mais precisas e efetivas. Algumas ferramentas que contribuem nesse processo são:
- Pulse surveys: pesquisas automatizadas, curtas e frequentes que capturam o clima emocional do time em tempo real.
- Mapas de carga: diagnósticos feitos periodicamente que mostram como tarefas e demandas estão distribuídas na equipe. O ideal é pedir para cada líder mapear as demandas do seu time semana ou mensalmente para avaliar a carga de trabalho de cada um.
- Ouvidoria de escuta ativa: canais anônimos para feedbacks e relatos espontâneos dos colaboradores. Uma boa forma de se implementar esse sistema sem gastar nada é usando os famosos formulários do Google com resposta anônima e incentivar os trabalhadores a deixarem seus retornos mensalmente por lá.
Além das ferramentas digitais, recursos como a análise 360° também oferecem uma visão aprofundada sobre o ambiente emocional da empresa, especialmente quando aplicados com o apoio de consultorias ou softwares especializados, que garantem anonimato e embasamento técnico.
Esse tipo de escuta ativa fortalece a prevenção de transtornos mentais no trabalho e ajuda a transformar dados em planos de ação reais.
6. Entenda o impacto do burnout nas equipes e atue preventivamente
Ignorar os sinais de burnout pode comprometer a estabilidade da equipe e dificultar a construção de um ambiente funcional. Por isso, a prevenção de transtornos mentais no trabalho precisa estar integrada à estratégia da empresa, com planejamento, acompanhamento e o engajamento ativo das lideranças.
Contar com o olhar técnico de uma consultoria especializada também contribui para que o processo seja conduzido de forma imparcial, segura e com maior adesão dos times.
Essas ações, quando aplicadas de forma integrada, ajudam a reduzir os riscos de adoecimento emocional e criam um ambiente mais saudável e sustentável, algo que passou a ser exigência da Consolidação das Leis do Trabalho a partir de maio de 2025.
Avaliação de riscos psicossociais: o que muda com a NR-1 em 2025?
A partir do dia 26 de maio de 2025, as empresas brasileiras passam a ter uma nova responsabilidade: identificar e avaliar formalmente os riscos psicossociais presentes no ambiente de trabalho. A exigência faz parte da atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que estabelece as diretrizes gerais de saúde e segurança ocupacional.
Mas, na prática, o que isso significa?
Significa que, agora, é preciso olhar com mais atenção para fatores como metas abusivas, pressão constante, assédio moral, físico ou sexual, insegurança sobre o próprio cargo e a ausência de autonomia no dia a dia. Esses elementos, quando não gerenciados, se tornam gatilhos diretos para quadros de burnout e outros transtornos mentais.
E a avaliação desses riscos pode ser feita com o apoio de metodologias específicas, como:
- Pesquisas de clima com foco em saúde emocional
- Entrevistas estruturadas com equipes e lideranças
- Análises de jornadas, metas e indicadores de sobrecarga
- E, em muitos casos, com a contratação de consultorias externas que garantem anonimato e embasamento técnico no mapeamento desses riscos.
Mais do que uma obrigação, a nova norma representa uma oportunidade para repensar o ambiente de trabalho de forma mais estratégica e humana, afinal, entender os riscos é importante, mas o que as empresas fazem com esse conhecimento é o que realmente define os próximos capítulos.
Prevenir o burnout exige constância, intenção e uma gestão que saiba ouvir antes que o silêncio se transforme em afastamento.
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